Sociedade e Homem contemporâneo
11-01-2015 18:12
Nos dias que correm vivemos numa sociedade assente num ritmo frenético. Impulsionado pelo sistema capitalista e pelos mercados mundiais, o individuo vê-se persuadido a acelerar o seu ritmo de vida e a trabalhar um número de horas exagerado e com níveis de tensão insuportáveis. O resultado deste processo é o surgir de desequilíbrios latentes que à primeira oportunidade desencadeiam aflições e doenças potencialmente fatais.
Para melhor compreender estes processos vamos analisar o meio onde se insere o homem contemporâneo.
Todas as sociedades assentam num determinado sistema de valores.
Nos tempos idos das sociedades matriarcais os sistemas de valores remetiam para a proximidade com a natureza, a capacidade para a escutar, para respeitar as estações e sentir os impulsos humanos e animais, obedecendo-os. Com o surgimento das sociedades patriarcais houve uma alteração desta tendência, os sistemas de valores deixaram de vir da ordem da natureza para serem elaborados pelo Homem, sendo este a autoridade.
Assim, temos o aparecimento das religiões, da moral, da economia, das nações, da ciência, da medicina, entre outros...
Com o evoluir da História da Humanidade e ao chegar à História contemporânea observamos um progressivo acelerar do crescimento populacional e económico, das trocas comerciais, da velocidade dos sistemas de comunicação.... Como nunca antes, a sociedade cresce, acelera e quem nela se insere o mesmo tem de fazer.
Do ponto de vista oriental, vivemos numa sociedade Yang.
(O Yang na filosofia oriental é a face luminosa de uma montanha, corresponde ao que cresce, ao que se expande, ao luminoso, ao movimento, à atividade, o manifesto, o metabolismo, o etérico, o procedente, etc... O Yin será a face escurecida de uma montanha, corresponde ao que diminui, o que se concentra, ao escuro, ao imóvel, à inatividade, o potencial, o nutritivo, o material, o precedente, etc...)
Comprova-se, pela observação, que esta sociedade Yang está desequilibrada. Isto é, o Yang está exacerbado em relação ao Yin (Fig.1). Comprovam-no as análises e estudos científicos que dizem que a pegada ecológica da humanidade é superior à bio capacidade do planeta terra1. No entanto não acaba aqui o desequilíbrio provocado pela nossa sociedade Yang.
A filosofia oriental diz-nos que qualquer excesso prolongado de Yang acarreta uma diminuição do Yin. Quando observamos a relação da nossa sociedade com o planeta Terra isto verifica-se. Temos uma diminuição crescente da bio capacidade do planeta com a desflorestação2, a destruição dos ecossistemas marítimos3, a diminuição da biodiversidade4, a diminuição dos recursos fósseis5… Ou seja, com a exacerbação do Yang através do sistema capitalista e dos mercados globais, temos uma diminuição do Yin que se manifesta pela diminuição da Bio capacidade do planeta Terra ( Fig. 2).
O que ainda não se verificou de forma pronunciada mas que já está a acontecer é que a diminuição da Bio capacidade do planeta acarreta em si a diminuição do crescimento económico e crises no sistema capitalista.
Isto é, a diminuição do Yin conduz à diminuição do Yang.
Esta tendência observa-se facilmente no paradigma energético da sociedade contemporânea: Temos uma economia que depende de energia para continuar a crescer, assim, quanto mais a economia cresce (aumento do Yang) maiores são os gastos energéticos. Uma vez que atualmente a principal fonte de energia é o petróleo dá-se uma diminuição crescente das suas reservas (diminuição do Yin). Esta diminuição acarreta um aumento do preço do petróleo que desencadeia um aumento do custo da energia e culmina num decréscimo da economia com uma provável crise económica (decréscimo do Yang)6.
Assim, existe a tendência do atual estado da nossa sociedade evoluir para um quadro de insuficiência de Yin e de Yang onde o Yang é hiperativo (Fig.3).
Infelizmente isto não é tudo, da degradação do equilíbrio do planeta e da sociedade, surgem produtos patológicos ao sistema tais como a poluição. Quando falamos de poluição a primeira coisa que nos ocorre é o efeito estufa7. Mas ainda temos a acidificação dos oceanos8, a acumulação de plásticos nos mares9, a acumulação de lixo em orbita10, entre outros.
Do ponto de vista da filosofia oriental e da medicina chinesa estes fenómenos são classificados como calor e mucosidades. Quando se concentram em determinadas proporções, podem interferir com o sistema de equilíbrio e mesmo provocar a dissociação do Yin e do Yang: o fim da vida.
Resumindo, nos dias correntes o desequilíbrio entre a sociedade e o planeta Terra passa por quatro fases:
1- Uma atividade
Yang exacerbada (Fig 1);
2 – Uma hiperatividade do Yang e diminuição do Yin (Fig 2);
3 – Uma diminuição conjunta de Yin e Yang com hiperatividade do Yang (Fig.3);
4 – Acumulação de poluição (calor e mucosidades) que o sistema não consegue
eliminar.
O Ser Humano ao inserir-se na Sociedade, tem tendência a seguir exatamente o mesmo percurso:
1- Um individuo trabalha um número de horas exagerado, com tensões crescentes e integra um desequilíbrio de Yang exacerbado (Fig.1).
Os principais sintomas deste desequilíbrio são o stresse e a agitação mas podem surgir outros sintomas como irritação, dores de cabeça, hipertensão arterial, tonturas, problemas de visão, insónia, sonhos agitados, entre outros...
2- Com o tempo e com o desgaste o individuo incorpora um desequilíbrio de insuficiência de Yin com hiperatividade do Yang (Fig.2).Todos os sintomas anteriores ficam mais marcados e começam a ser acompanhados de dores de costas e de joelhos, ansiedade, palpitações, diminuição da libido, secura da boca, da pele e dos olhos, entre outros...
3- Finalmente chegamos à terceira fase, altura em que comummente o individuo começa a dizer que está a ficar velho e onde se instala o síndrome de insuficiência de Yin e de Yang com hiperatividade do Yang (Fig.3). Todos os sintomas anteriores se agravam e aos mesmos se junta o cansaço, esgotamento, frio nos pés e na lombar, entre outros...
4- Paralelamente e muito infelizmente temos o acumular de produtos patológicos deste estilo de vida: calor e mucosidades.Estes produtos acumulam-se por dois motivos: o primeiro é a carga emocional que gera calor e que por sua vez ao consumir os líquidos orgânicos gera mucosidades; o segundo ocorre quando o organismo perde a capacidade de eliminar o tóxico e combater o perverso.
As consequências principais são a formação de nódulos, quistos, tumores, doenças autoimunes, afeções dermatológicas (problemas de pele), entre muitas outras.
Desde modo, analisado o estilo de vida contemporâneo, comprovamos que este é Yang exacerbado.
A sociedade contemporânea depende da população, esta ultima é a base da primeira, isto é: as pessoas são o alimento e o sustento da sociedade e do seu ritmo desenfreado. Ou seja, a população é Yin em relação à Sociedade contemporânea, e a Sociedade contemporânea é Yang em relação aos indivíduos da população.
Constatamos ainda que tal como o Yang cresce exacerbado, mantendo-se assim à custa da diminuição do Yin, também o estilo de vida contemporâneo é mantido à custa do consumo da saúde dos indivíduos que nele se inserem.
Concluímos que o verdadeiro desastre é a não consciencialização da severidade do paradigma contemporâneo em relação ao padrão atual e de que existe a possibilidade de este poder ser alterado e corrigido.
Por este motivo faço um alerta para esta realidade e aconselho todos os leitores a procurarem estilos de vida alternativos.
Na impossibilidade de o poderem fazer, adotem hábitos e mecanismos que ajudem a colmatar as debilidades causadas pela sociedade contemporânea.
“Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro,
depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem-se do presente de forma que
acabam por não viver nem no presente nem no futuro.
Vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido.” Autor desconhecido
Afonso Guimarães
2-https://www.worldwildlife.org/threats/deforestation
3-https://portugalmundial.com/2013/05/a-destruicao-do-ecossistema-maritimo-e-iminente/
4-https://pt.wikipedia.org/wiki/Decl%C3%ADnio_contempor%C3%A2neo_da_biodiversidade_mundial
5-https://www.ecotricity.co.uk/our-green-energy/energy-independence/the-end-of-fossil-fuels
6-“The Third industrial revolution” – Jeremy Rifkin
7-https://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_estufa
8-https://pt.wikipedia.org/wiki/Acidifica%C3%A7%C3%A3o_oce%C3%A2nica
9- https://speco.fc.ul.pt/revistaecologia_3_art_3_3.pdf
10-https://pt.wikipedia.org/wiki/Detrito_espacial