O conceito de Qi

03-02-2015 13:46

Para compreender a medicina chinesa é necessário entender a sua terminologia e a origem dos seus conceitos. 

A medicina chinesa nasce do Taoismo, o qual surge da contemplação da natureza. Assim, os sábios, ao longo de milhares de anos, observaram os fenómenos exteriores e contemplaram as mudanças interiores. Deste processo maioritariamente descritivo foi possível sumarizar observações e leis universais. A primeira observação é a existências do Yin e do Yang seguindo-se a descrição das suas leis de comportamento.

Não há nenhum fenómeno ou objeto manifesto no universo conhecido que não possa ser descrito através das leis do Yin e do Yang. É por este motivo que a validade da doutrina do Yin e do Yang se mantem desde à milénios.

O Yin e o Yang correspondem respetivamente ao lado sombrio e iluminado de uma montanha. Assim, os sábios verificavam que quando observavam a natureza esta é sempre diferenciável em dois polos. Que era da polaridade da realidade que se torna possível o processo cognoscente. Ou seja, se não existissem “alto” e “baixo” não existiriam as comparações necessárias à perceção da “altura”; se não existisse o “frio” e o “quente” não existiriam as comparações necessárias à perceção da “temperatura”; e por ai em diante: “pequeno” e “grande” para o “tamanho”;  o “lento” e o “rápido” para a “velocidade”;…  Deste modo, se não existisse Yin e Yang não existiriam as comparações necessárias à perceção da realidade em que vivemos. Assim, o Yang será sempre o alto, o quente, o grande, o rápido, o movimento , o luminoso, o masculino, o elétrico,... Enquanto o Yin será o baixo, o frio, o pequeno, o estático, o escuro, o feminino, o magnético,….

Os sábios descreveram as leis do Yin e do Yang da observação descritiva do seu comportamento:


Os 7 princípios universais da ordem do universo:


  1. Toda a manifestação provem da diferenciação de uma fonte universal em Yin e Yang.

  2. Tudo se transforma e nada se mantem.

  3. Todos os antagonismos Yin e Yang são complementares.

  4. Não há dois objetos ou fenómenos idênticos ( tudo é único em si).

  5. Tudo têm um precedente e um procedente ( existe uma continuidade temporal causa e efeito).

  6. Quanto maior a energia precedente maior o resultado procedente.

  7. Tudo o que tem um principio tem um fim.



As 12 leis da transformação do universo infinito:


  1. A fonte universal manifesta-se em antagonismos complementares, Yin e Yang, em transformação constante.

  2. O Yin e o Yang manifestam-se continuamente como eterno movimento proveniente da fonte universal.

  3. O Yin representa uma força centrípeta; o Yang representa uma força centrifuga. Juntos, o Yin e o Yang  geram o Qi e todos os fenómenos.

  4. O Yin atrai o Yang. O Yang atrai o Yin. Os opostos atraem-se

  5. O Yin repele o Yin. O Yang repele o Yang. Os iguais repelem-se.

  6. O Yin e o Yang em proporções diferentes resultam nos diferentes fenómenos. A atração e a repulsão entre fenómenos é proporcional às suas diferenças constitucionais de forças Yin e Yang.

  7. Todos os fenómenos são efémeros, continuamente alterando as suas proporções Yin e Yang. O Yin transforma-se em Yang e o Yang transforma-se em Yin.

  8. Nada é absoluto Yang ou absoluto Yin. Tudo é constituído por Yin e Yang em proporções variáveis.

  9. Nada é neutro. Um dos polos, Yin ou Yang, está sempre em excesso, mantendo o movimento permanente.

  10. Um grande yin atrai um pequeno yin (o pequeno Yin será Yang em relação ao grande Yin). Um grande Yang atrai um pequeno Yang (o pequeno Yang será Yin em relação ao grande Yang).

  11. O Yang levado ao extremo transforma-se em Yin. O Yin levado ao extremo transforma-se em Yang.

  12. Todas as manifestações físicas são Yang no centro e Yin na superfície (ou seja, embora tenham à superfície aparecia estática-Yin, no seu interior irão conter sempre movimento-Yang).

     

     

    O Qi é um outro conceito muito importante em medicina chinesa, erroneamente traduzido como energia. O Qi é gerado pela interação entre o Yin e o Yang, é a manifestação desta interação e é a própria interação. Isto porque como o Yin e o Yang são indissociáveis e eles estão sempre em co-relação num perpetuo movimento, o Qi surge como a causa do movimento, a força anímica e constitucional da manifestação no universo visível. Em suma, o Qi é o que provoca o movimento e mantem a estrutura, é então um substrato material e anímico subjacente a tudo.


    Tudo é movimento, desde os corpos celestes ( estrelas, planetas, cometas,….), às partículas subatómicas ( eletrões, protões,  fotões,….) e tudo pelo meio ( cristais, plantas, animais,….). É deste movimento que ocorre a manifestação do que existe. Sabe-se nos dias de hoje que nada pode ser levado ao zero absoluto* ( condição com ausência de vibração-movimento1); ou seja, que o movimento é propriedade intrínseca da manifestação. Assim, sem este movimento ( e da força anímica Qi) não haveria manifestação/ existências das partículas constitucionais da matéria e por consequente a existência de tudo no universo manifesto.

     

    Em medicina chinesa o Qi torna-se fundamental, uma vez que é da análise do comportamento do Qi no corpo humano e de cada pessoa em concreto, que nos é possível fazer um diagnostico energético, desenhar um processo terapêutico manipulador do Qi e promotor da recuperação da saúde dessa pessoa.

     

    Concluindo, o Qi não é algo etérico e impalpável místico-mágico, mas é em si mesmo concreto, observável e passível de ser manipulado. É a manifestação visível e palpável da dialética entre o Yin e do Yang.

     

     

     

    1- https://pt.wikipedia.org/wiki/Zero_absoluto

     

*Recentemente foi possível ultrapassar o zero absoluto mas através de um paradigma diferente que não implica a ausência de movimento( este fenomeno é descrito pela referida 11ª lei das transformações do Yin e do Yang): https://www.nature.com/news/quantum-gas-goes-below-absolute-zero-1.12146 

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Afonso Bandeira Guimarães

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