Do Yin e do Yang aos Cinco Movimentos

26-11-2014 18:54

A doutrina do Yin e do Yang surge na antiguidade chinesa. Nesta altura os sábios dedicavam-se à contemplação da natureza para a melhor compreender. Observaram os diferentes fenómenos e os diferentes constituintes do universo. Desta observação retiraram várias conclusões:

1 - A Primeira observação é de que as coisas e os fenómenos são diferentes entre si. Sem a diferença não haveria distinção entre componentes e manifestações. É esta diferenciação que possibilita a observação das “mil coisas”, sem ela o universo seria totalmente amorfo, eterno e estático sem possibilidade para a existência de transformações e de estruturas diferenciáveis, tais como os planetas, os seres vivos, entre outros…

A diferença observada possibilita a caracterização dos objetos e fenómenos por parte do Homem. Esta caracterização, natural para o cérebro e psique humana, conduz à comparação consciente e/ou inata, dos objetos observados. É desta comparação, e apenas na comparação, que o Homem verificou que toda a análise culmina no enquadramento dos objetos em duas e apenas duas categorias, dois polos para cada propriedade ou caracterização. Os dois polos foram chamados de Yin e de Yang.

Por exemplo: se a característica for a “altura” um polo será o alto e o outro o baixo; para a “luminosidade” um polo será o luminoso e o outro o obscuro; para o “movimento” um polo será o agitado e o outro o parado; para o “tamanho” um polo será o grande e o outro o pequeno; e por aí em diante.

Desta forma, o Yin e o Yang surgem da transversalidade da observação comparativa. O universo surge com dois polos de natureza oposta que consoante a sua manifestação observam-se características diferentes. Por convenção o Yang, polo masculino e positivo, corresponde ao grande, ao alto, ao pleno, ao etérico, ao luminoso, ao agitado, ao elétrico, ao calor, ao forte, ao ativo, ao movimento ascendente e centrifugo, etc. O Yin, polo feminino e negativo, corresponde ao pequeno, ao baixo, ao vazio, ao material, ao obscuro, ao magnético, ao frio, ao fraco, ao inativo, ao movimento descendente e centrípeto, etc.

2 - Logicamente um objeto grande só o será em relação a um pequeno e esse mesmo objeto grande tornar-se-á um objeto pequeno se o compararmos a um outro maior. É por este motivo que o Yin e o Yang não têm absolutos, cada um só surge em relação ao outro. Esta realidade leva-nos à grande conclusão inclusa na doutrina do Yin e do Yang: se um polo só existe em relação ao outro e nenhum tem uma existência própria e absoluta, então o Yin e o Yang são uma só entidade indissociável com duas faces. Assim como a Lua que embora seja uma só, vista da Terra tem duas faces: a visível e a oculta.

Deste modo, a doutrina do Yin e do Yang não só fala da existência e caracterização de dois e apenas dois polos na realidade como ainda nos diz que o universo é um Todo indissociável embora diferenciável.

3 - A terceira observação é a da transformação. Todos os objetos e fenómenos originam um novo e são precedidos de um antigo. Assim temos a aceitação da impermanência e efemeridade de tudo o que existe. Ao dia segue-se a noite, à vida segue-se a morte, ao exercício segue-se o descanso, à maré cheia segue-se a maré vazia, à lua cheia chegue-se a lua nova, ao reativo segue-se a estabilização.

Estas transformações conduzem um polo em direção ao outro, i.e., do Yang surge o Yin e do Yin surge o Yang. Se comparamos o resultado de um fenómeno em relação ao que o precede teremos sempre dois polos, um oposto do outro, um Yang e outro Yin.

4 - Na observação das transformações verificamos que os fenómenos sucedem-se em direção ao infinito e as transformações do Yin e do Yang formam um ciclo inquebrável e contínuo. Temos o extremo do Yang e da manifestação, o Yin que cresce no Yang conduzindo a um decréscimo de atividade, o extremo do Yin e o máximo de passividade e inação, o Yang que cresce no Yin com início da atividade e movimento. A manifestação destas fases é observável por todo o universo e todos os fenómenos são enquadrados nestas categorias de transformação ou “movimentos”. Por exemplo, em relação à evolução de um dia, no meio dia em que o sol está alto, segue-se o entardecer e anoitecer em que o sol se põe, seguido da meia-noite em que a escuridão é máxima, terminando  na madrugada e no inicio de um novo dia em que o sol se levanta e a luz surge. Igualmente temos o nascimento e o desenvolvimento de um ser vivo, temos a seu esplendor de desenvolvimento e manifestação de vida, temos o envelhecimento, e temos a morte como a cessação de toda a atividade. Em relação ao ano, temos o Verão com o máximo de calor, o Outono em que arrefece e os dias ficam mais curtos, o Inverno com o máximo de frio e temos a Primavera em que aquece e os dias ficam mais longos.

5 - É então que da doutrina do Yin e do Yang surge a doutrina dos cinco movimentos (WuXing) também designada de cinco elementos e de penta-coordenação; quatro dos cinco movimentos são os que foram anteriormente descritos: o máximo do Yang (Fogo), o Yin que cresce no Yang (Metal), o máximo de Yin (Água) e o Yang que cresce no Yin (Madeira). Estes correspondem a dois eixos de opostos, Agua-Fogo (Eixo da verticalidade) e Madeira-Metal (Eixo da horizontalidade). Estes dois eixos cruzam-se para suster uma circunferência, que é a representação do ciclo interminável das transformações e das permutações. Sendo o centro, o ponto de intercessão dos dois eixos apresenta-se como o quinto movimento (Terra).

Este centro unificador e sustentador dos eixos que originam e mantêm o ciclo das permutações é o movimento que está na origem da mudança de fase, em que os fenómenos de um movimento permutam em fenómenos do movimento que se segue.

Assim o movimento Madeira corresponde ao inicio de manifestação que incrementa e cresce, o Fogo corresponde ao máximo de desenvolvimento e de manifestação, a Terra corresponde ao que sustenta e transforma, o Metal corresponde ao que decresce e conserva, a Água corresponde ao máximo de inação, solidez e potencial para futura manifestação.

Os cinco movimentos traduzem então a natureza no universo, onde o movimento e a impermanência são constantes e a identidade e o estático são relativos. Todo o fenómeno terá de ser analisado por comparação tendo em conta o ciclo de permutações em que se insere. Este será incluído num dos movimentos, uma identidade transitória, o estático relativo dentro do impermanente absoluto.

Em suma,  o pensamento chinês vê o universo como um todo unificado, diferenciável em dois polos, o Yin e o Yang. Este universo de polos está em constante permutação onde o Yin origina o Yang e o Yang origina o Yin. A sequência infinita de fenómenos comparáveis entre si, origina um ciclo onde tudo o que cresce acaba eventualmente por estagnar e começar a decrescer; e onde tudo o que diminui tende a eventualmente estagnar e começar a crescer. Este ciclo interminável segue leis energéticas, funcionais e manifestas que nos permitem caracterizar os cinco movimentos que são transversos a todos os ciclos de manifestação no universo.  Isto permite prever como um determinado sistema se irá comportar, aferir a forma equilibrada ou desequilibrada de manifestação deste, e de que modo interferir para obter resultados desejáveis.

 

Afonso Guimarães

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